Este número da Revista Repertório traz para a luz do nosso Proscênio um conjunto de reflexões sobre o trabalho que em geral faz-se nos bastidores e na rotina dos ensaios para depois irromper e irradiar-se em cena, com toda sua força sugestiva, sob a forma de imagens sonoras. Salvo nas modalidades de encenação em que a música é executada ao vivo, a contribuição de músicos, arranjadores, compositores de canções e trilhas musicais em geral integra o todo da construção dramatúrgica, na feitura de peças e roteiros.
Dentre as artes que tecem o complexo sistema cênico de um espetáculo, a música possui um estatuto muito particular, pois o caráter não figurativo do signo musical estabelece uma tensão contínua com os demais elementos da representação. Esse aspecto, por si só, aponta para a particular influência de qualquer efeito musical sobre as obras cênicas. Mas, de um ângulo histórico, é preciso considerar também que o papel da música em cena vem se transformando à medida que novas perspectivas foram abertas à sua intervenção na dança, no teatro e no cinema. Na encenação contemporânea, a música não serve apenas à ilustração ou caracterização de atmosferas ou mesmo à criação de cenários acústicos, situando personagens e situações; a força dos efeitos sonoros pode exercer-se de várias formas: como contraponto, deslocamento, antítese ou comentário irônico da ação.
A parte intitulada Ensaios oferece ao leitor tanto a reflexão dos próprios artistas sobre sua contribuição musical às Artes Cênicas quanto a visão de pesquisadores que se debruçaram sobre gêneros do nosso cancioneiro e sobre aspectos técnico-científicos da audição musical. A terceira parte,
Persona, traz entrevista exclusiva com o músico e compositor Tuzé de Abreu, na qual o artista desenha sua multifacetada trajetória como arranjador, diretor musical e sobretudo autor de canções que estão diretamente associadas ao sucesso de vários filmes e obras cênicas.
Em Cenário brindamos o leitor com a beleza visual de Policarpo Quaresma, num ensaio fotográfico do espetáculo do Núcleo de Teatro do TCA com direção de Luiz Marfuz, a partir de adaptação de Marcos Barbosa para o romance de Lima Barreto.
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